segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Translo(u)cando as relações e deslo(u)cando as ilusões


Imagem disponível em: <https://www.andiar.com/vinilos-decorativos/2003-vinilo-mujer-afro.html>. 
Último acesso em 13 Mai 2021. 

A cabeça foi feita pra pensar
a boca pra falar
nada de trocar,
nem pensar com a boca
e falar com a cabeça.
Alerta!
Socorro!
Sinal vermelho!
Emergência!
Inspira..
Respira..
'não pira!'

Luciene Rêgo
Um dia desses em 2018
Para uma amiga querida

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Ah.. quando eu era criança

(arquivo pessoal)

Ah quando eu era criança..

Ah que saudade da infância..


Quando eu era pequenina

sorria e dançava sempre

feliz corria pra lá e pra cá

cantarolando e curtindo a vida de criança feliz


Ah quando eu era criança..

Ah que saudade da infância..


Minha maior felicidade

era quando as férias chegavam

pois eu sabia que iria

para Barras passar as férias com minhas primas e primos

e minha avó e meu avô

Quando lá chegava

a primeira coisa que eu fazia era tirar os chinelos dos pés

e sair correndo descalça

ficava lá mês de dezembro e janeiro

e praticamente todo esse tempo descalça durante o dia

correndo pelo quintal

pelo mato

subindo em árvores

brincando de pega pega, esconde-esconde


Ah quando eu era criança..

Ah que saudade da infância..


Amava subir em árvores

os pés de caju e de manga

muitas vezes subia tão alto

que não conseguia descer

ai meus primos subiam pra me ajudar

O meu primo Narciso sempre me socorria

me mostrando em qual galho colocar o pé pra descer

e eu prometia

que aquilo não se repetiria

que nunca mais ia subir tão alto

isso acontecia... por um tempo

as vezes  até as próximas férias

mas quando eu chegava de volta no próximo ano

esquecia das promessas

e subia no  galho mais alto do pé de manga

e comia manga lá em cima

depois começava o mesmo chorôrô

-me ajudem... não consigo descer

uma dessas vezes apanhei da vó...

pra não subir tão alto

pois já tava ficando de noite

e eu tava dando trabalho

não conseguia descer

e a vovó me alertava

que já era seis horas

era hora das cobras

quando desci apanhei de galho de goiaba

mas logo esqueci


Ah quando eu era criança..

Ah que saudade da infância..


Outra coisa que amava fazer

era ouvir meu vovô Manoel contar histórias

lindas e encantadas

cheias de personagens do mato, bravos e que enfrentavam almas penadas

e viviam muitas aventuras

queria tanto me lembrar de alguma delas

sentávamos no chão em volta do vovô

vinham parentes e amigos de longe

sentávamos em volta da fogueira

e ele contava histórias

e outras pessoas também

mas a do vovô eram as melhores

ele me chamava de Caboquinha 

chamava todos os netos de caboquinhos

e as netas de caboquinhas

era tão lindo meu vovô Manoel

hoje ele tá no céu


Ah quando eu era criança..

Ah que saudade da infância..


Nós crianças também fazíamos rodas

imitando os contadores de histórias

meus primos de Barras contavam as histórias que aprendiam com o vovô

e com os outros contadores

eu pra não ficar pra trás

quando ia em Teresina pedia minha mãe pra comprar livros

de contos de fadas

e voltava cheias de histórias novas...

sempre inventava um pouco e modificava o original

como meus primos

mas o melhor de todos era o Narciso

as histórias dele não acabavam

ele inventava tanto que se perdia

e ficávamos perguntando pra ele o que vinha depois

e ele respondia: - e aí... e aí.....

e demorava tanto

até que eu não aguentava, nem eu nem os outros 

e pressionávamos ele pra terminar

e ele inventava um final bobo

e ficávamos com raiva

de termos esperado tanto por esse fim

mas era engraçado...

Ah quando eu era criança..

Ah que saudade da infância..

Outra coisa que eu amava

era brincar de lavar roupa no rio

não era lavar roupa

era bater roupa

“igual as tias da limpeza batem roupa nas pilastras da UnB”

eu saia com minhas tias e primas

carregando uma trouxa na cabeça

as vezes caía

e eu pegava e tentava equilibrar

me admirava das minhas primas que carregavam trouxas enormes

e das minhas tias

que lavavam roupa da casa inteira

meus primos sempre iam de mãos vazias

correndo e mostrando o caminho

chegando lá depois de bater roupa

ia brincar de aprender a nadar

cada um me ensinava uma técnica

e eu não conseguia aprender

mas uma dia me surpreendi

pois sabia nadar pra me salvar

brincaram de me jogar num poço 

e eu me escapei nadando

mas logo depois esqueci


Ah quando eu era criança..

Ah que saudade da infância..


Quando voltava pra casa 

já estava com saudades

da minha mãezinha

e da minha comodidade

Filha única naquela época

chorava pra ter uma bicicleta

que ganhei somente com dez anos

todo ano pedia pro meu pai

e ele mandava eu pedir pra minha mãe

minhas melhores amigas de infância foram a Elany e a Raquel

até hoje amigas

com elas brincávamos umas nas casas das outras

eu chorava pra ir pra casa delas

pois nem sempre minha mãe deixava

aos domingos íamos a Praça da Concórdia

e dávamos mil e uma e voltas

falando do nosso futuro

e do que queríamos ser

e que sempre íamos ser amigas

sou tão feliz de ter vocês até hoje em minha vida

Outra coisa que nunca esqueço

era na casa da Madrinha Nazaré

com meus primos Rubem, Cheila, Roseane, Joseane

que me ensinou a dar valor 

as coisas que tinha lá em casa

um dia de castigo

me levou pra passar um tempo

e aprendi a dar valor

pois lá eram 4 crianças e as regras eram severas

quem não comia no almoço ficava pro lanche

um dia subimos no pé de carambola

pra escapar de uma pisa

e ficamos lá a tarde toda

pensando que íamos escapar

boba essa minha ideia

quando descemos apanhamos

porque a desobedecemos

se eu soubesse não tinha inventado

pois acabamos levando castigo dobrado

Ah quando eu era criança..

Ah que saudade da infância..

e na escola

estudava no Educandário União

no Lourival Parente

brincava muito e corria muito

brigava muito com os meninos

pois eles me apelidavam de nega do cabelo de bolinha

gostava de bater neles

não sabia o que responder

então corria atrás deles e batia

essa era minha rebeldia

e com as meninas ríamos muito

fazíamos trabalhos juntas

falávamos de ser criança e de muitas coisas

éramos tão unidas

foi maravilhoso passar minha infância e começo de adolescência com vocês


Ah quando eu era criança..

Ah que saudade da infância..


E uma dia acordei

triste e chorosa

pois eu que amava brincar de bonecas

já não queria mais

eu tinha 15 anos

e achei que esse momento nunca ia chegar

então chamei Deus pra conversar

bater um papo sério

e dizer que eu não ia parar

de ser criança

e que aquela criança ia viver dentro de mim

pra me lembrar sempre

que eu não era igual a ninguém

e que nunca ia ser um adulta chata

pois em mim vive uma palhaça

uma criança linda

que ama a vida e as outras crianças lindas

e que um dia que ser contadora de histórias

e se fantasiar de palhaça

e contar histórias cheias de graça

e brincar de teatro de bonecos (outro sonho)

e alegrar muitas crianças

e me alegrar

e ter muitos/as afilhados e afilhadas

Viva o dia das crianças!

Viva todas as crianças!

Viva Nossa Senhora Aparecida

A criança que habita em mim

saúda a criança que habita em você!!!

Atma Namastê!!!


Luciene Rêgo 

12 de outubro de 2018